Sinto falta de um mundo, em que o céu era de um azul intenso
e as nuvens pareciam pinceladas de tinta. Me jogava na grama recém cortada com
seu cheiro a impregnar o ar e somente admirava. Aprender sobre qualquer coisa
naquele tempo era um presente.
Tenho saudades de um mundo, onde as brincadeiras eram sadias
e combinavam tão bem com criatividade.
Sinto falta de ouvir pessoas que jamais serão ouvidas
novamente, de toques tão suaves e acalentadores como uma pétala de flor...
Minhas lembranças se misturam com o som histérico de vozes
infantis: primos e primas reunidos ao redor de uma mesa grande num final de ano
qualquer. Naquele tempo, as vozes eram mais fortes, mas conforme os anos vão
passando ficam mais fracas, como se fizessem parte de um sonho bom.
As noites eram também mais iluminadas, porque quando chovia,
os vaga-lumes ficavam voando ao redor dos postes de luz.
Me chegam flashes de fotos. Vejo imagens, sorrisos,
brinquedos e desejos tão simples e fáceis de serem realizados...
Lembro a inocência do primeiro beijo, o primeiro tocar de
mãos e a dor de um coração partido.
A vida era tão sublime e eu, acreditava fielmente em um
único amor verdadeiro como acontece nos filmes, em que um coração é
predestinado a outro.
Acreditava que tudo era para sempre: as pessoas, os animais,
os sentimentos...
Mas por incrível que pareça, eu cresci. Cresci por fora e
por dentro.
O processo de crescer foi matando aos poucos esse mundo que
antes era tão doce. Mas não sou assim tão ingrata, tenho uma vida boa. Vivo
agora de sonhos reais e amores possíveis. Mas inegavelmente, vivo também de
amizades distantes e de saudades...
Saudades de quem fui um dia, da minha infância e das pessoas
que fizeram parte dela.
Não é assim tão ruim, mas tenho consciência de que algumas
músicas nunca mais irão tocar, de que nunca mais voltarei a ver algumas pessoas
e de que eu me faço um tanto de falta. Sinto falta da minha criança que hoje,
tornou-se apenas lembranças que habitam minha alma...
Joanna Catharina
09/01/2013