gato e lãs

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Filme Repetido


André tinha cinco anos quando seus pais se separaram. Seu pais já vinham vivendo há alguns meses de um relacionamento de fachada. Seu pai tinha uma amante e demorava voltar para a casa depois do trabalho. Mas André toda noite esperava pelo seu pai, para ouvir sua voz, abraçá-lo e depois deitar tranquilo.
A mãe de André, em conseqüência, vivia com uma expressão carregada e muitas vezes sentava-se no sofá da sala junto com a avó de André. Ficavam por horas discutindo coisas que naquela época André não entendia muito bem. Mas sabia que algo ruim estava acontecendo.
A situação ficou insustentável para a mãe de André, que discutiu com o marido quando ele passou o dia todo fora de casa. André ouviu gritos, choro e lembrava-se do seu pai dizer que não estava feliz e que iria lutar por André. Depois disso houve a separação. Os pais de André não sabiam, mas estavam mudando a vida do filho para sempre.
Nos dias que sucederam àquela noite de discussão, o pai de André não voltou mais. Embora André ainda ficasse sem dormir, apenas para ouvir a voz do pai, abraçá-lo e depois poder dormir tranqüilo, o pai dele não voltou mais.
As coisas eram complicadas para André, ele não entendia porque o pai não voltava do trabalho e porque a sua mãe passava as noites chorando sempre forçando um sorriso falso quando o menino a interrogava o motivo.
Com o tempo André entendeu que os pais já não se amavam e que mesmo distantes iriam continuar sendo seus pais. André entendeu isso tudo pelos esforços de sua mãe, mas isso não significa que tenha aceitado a separação.
O reflexo de tudo estava na escola, André que antes era um aluno exemplar, passou a ter péssimo rendimento e já não parecia mais uma criança brincalhona como antes. Passava o dia todo evitando contato com outras crianças.
Por conta disso, a mãe de André marcou consulta para o filho em vários consultórios. Toda semana levava o filho em um psicólogo. Além disso, a mãe do menino se desdobrava em um emprego que arrumou depois da separação. Era secretária em um consultório e mesmo que não ganhasse muito, procurava sanar os problemas internos do filho comprando vários presentes e fazendo os gostos do menino. Embora André não tivesse o mesmo brilho no olhar, as táticas da mãe naquele momento funcionaram.  André crescia manhoso e acostumado com tudo fácil. Enquanto André fosse criança, sua mãe tinha o controle nas mãos.
O pai de André brigou na justiça pela guarda do garoto, mas foi em vão. Depois, conforme o tempo ia passando, André não conseguia ficar na presença do pai, que de herói passou a ser vilão. André não conseguia ficar um minuto na presença do pai, sem fazer julgamentos. Tinha plena certeza de que a culpa era daquele homem traidor. Odiava a nova esposa do seu pai e por consequência deixou de frequentar sua casa.
Quando André completou quinze anos, sua mãe viu a situação sair fora do controle de suas mãos. André crescia rapidamente e já estava começando a pensar pela própria cabeça sem interferência de terceiros. Odiava todos os psicólogos e achava realmente que aquelas pessoas não eram ninguém para medir seu sofrimento ou sugerir alguma melhoria em seu caráter.
André virou um adolescente rebelde. Não admitia os motivos daquilo tudo para ele mesmo, porque julgava já ter esquecido, mas não tinha. Então para provar para todos ao redor, se rebelava, fazia-se de forte e aparentava ser dono do próprio nariz. Respondia sua mãe e as brigas com ela eram constantes.
Sua mãe queria que o rapaz se dedicasse aos estudos, mas ele não queria saber de ir ao colégio. Além do mais a mãe arrumou um namorado que André não queria ver nem pintado de ouro. Então começou a andar em más companhias e conforme os anos iam passando, as coisas iam piorando.
Saía pelas madrugadas e se embebedava, experimentava algumas drogas que o desinibiam,  faltava às aulas e deixava sua mãe acordada durante a madrugada rezando para que nada de ruim acontecesse a ele.
Anos mais tarde, André já com seus dezoito anos, percebeu que todos seus amigos de farras noturnas haviam tomado juízo e cursavam uma faculdade, a maioria deles arrumou uma namorada e começou a trabalhar. No início achou besteira, mas depois se viu muito sozinho. Começou a sentir necessidade de melhorar como pessoa.
Depois de oito anos retornou à casa do seu pai e pediu ajuda para que cursasse faculdade. O pai ficou feliz e não negou ao filho.
A mãe de André orgulhou-se do filho que estava cursando Administração de Empresas.
Foi durante as aulas que André conheceu Natália, uma garota diferente das outras. Logo começaram a namorar e queriam se casar depois que se formassem.
Formaram-se da faculdade e André arrumou um bom emprego. Casaram-se e Natália engravidou em dois meses.
A mãe de André agora era avó e estava contente. Natália deu à luz a um menininho e tamanho era o amor pelo marido, que resolveu chamá-lo de André Júnior. Carinhosamente todos chamavam o menino de Andrézinho.
André, sua esposa e a criança passeavam pelo parque, jantavam e almoçavam juntos à mesa e sempre iam à Igreja aos domingos. Eram felizes. Andrézinho admirava o pai e durante a semana esperava sentado no sofá da sala pela hora em que o seu pai chegaria do trabalho. Corria para os braços do pai e o abraçava contente.
Porém depois de passados uns anos, André já não sentia mais atração pela mulher que na sua concepção estava gorda demais. Começou um caso no escritório com uma moça magérrima e traía a esposa sem nenhum remorso.
Natália descobriu tudo separou-se de André. 
 Andrézinho continua toda noite sentado no sofá da sala, esperando o pai voltar do trabalho para poder abraçá-lo...

Joanna Catharina
09/10/2012

10 comentários:

  1. Que circulo dramático e infelismente comum e não impossível , mas isso pode acabar se praticarmos o Perdão, tentarmos compreender os motivos e os porques, difícil, mas tudo passa.

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    1. É possível sim desfazer esse círculo dramático. Mas nós seres humanos, raramente paramos para perceber as oportunidades que Deus nos dá para desfazer esse filme repetido. É uma história muito mais comum do que se pode imaginar quando paramos para olhar a realidade em volta. Poucos são os que lutam para não repetir os mesmos erros, muitas vezes só fazem julgar os pais e nem percebem que cometeram os mesmos erros...

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  2. Joanna Catarina....
    Os seres humanos têm a grande capacidade de reptir seus erros ao longo de sua própria vida... repetir filmes, histórias, decepções, tudo isso é parte do entendimento errôneo que o ser humano faz de si próprio, pois - como diz o texto - se acha dono do próprio nariz.
    A isso podemos chamar de falta de amor ou de Deus no próprio coração.
    Obrigado pela visita doce a meu blog. Virei sempre aqui pois já sou seu seguidor.
    Esperemos uma boa amizade entre nós dois!

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    1. Isso é uma pena.
      É mais ou menos como a música Pais e Filhos da banda Legião Urbana, inclusive um trecho diz exatamente:

      "(...)Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo
      São crianças como você
      O que você vai ser,
      Quando você crescer"

      Eu quem agradeço a visita!
      =* bjs e cuide-se

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  3. E por assim em diante...
    beijos
    boa terça

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    1. Angela, obrigada pela leitura e visita, já estou fuçando seu blog rs..
      Ahhh, como eu adoro a internet rsrs..

      Bjsss

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  4. Oii joanna.
    vim te visitar também,rsrs
    mt interessante seu blog,
    eu tb gosto de artes/artesanato
    sei bordar ponto cruz e vagonite,
    mais tricot nunca tentei..

    Bjinhos Joanna.

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    1. Oi Damaris! Qual significado do seu nome?

      Que bom que gostou do blog =)
      Poxa, eu acho lindo quem faz ponto cruz, mas não sei fazer. É muito difícil? Um dia pretendo aprender!

      =* bjsss

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  5. A Vida é um puxa e empurra, um leva e traz, um circulo vicioso...

    Gostei muito do seu blog e da diversidade que aqui encontrei :)
    Agradeço a carinhosa visita e também fico por aqui :)

    Beijo
    Sónia

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    1. Obrigada pela Leitura, Sónia!
      e fiquei muito contente com sua presença por aqui!

      =* beijossss

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